No outro dia fui ouvir a palavra do Senhor. É verdade, fui
fazer uma honra a S.Miguel, o padroeiro arcanjo da pequena aldeia de Assares,
onde vive a minha avó. Como a senhora fez anos nesse dia, fiz-lhe essa vontade.
E como diz o natinho, avó é avó.
Poderia dizer que foi um sacrifício à minha vontade, porque
preferia ter ficado no sofá a explorar a TDT, mas até que foi hilariante.
Chegamos à capelinha, toda pintada a dourado, cheia de riqueza por sinal, e
vimos umas dezenas de pessoas “conhecidas”. E ponho as aspas no “conhecidas” pela
simples razão de que toda a gente me conhece como a neta do senhor Alcino, ou a
filha da Paulinha, e eu não conheço ninguém! Estou a mentir. Conheço algumas
caras, os nomes é que não se colam nessas caras. Lá na aldeia há Marias que têm
cara de Rosas, e Joanas de Marias. Mas talvez a culpa já não seja do meu
cérebro. As pessoas daqui é que veem pouca gente durante o ano e todas as caras que
lhes aparecem à frente são facilmente reconhecidas. Mas já estou a desviar do
assunto principal.
Nesse dia fui inundada pela fantástica realidade de que o Pastor é
pago para que a mensagem do Senhor chegue aos devotos. Para além dos donativos
que são feitos pelos crentes, do imposto anual religioso e espiritual chamado
de côngrua, ainda recebem um pagamento por ler uma folha de papel de frases
soltas? Ou é por terem um bibe branco que corre o risco de ser sujo por tomarem
o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo?
Eles são pagos pelos crentes que apenas querem ouvir a
palavra do Messias! E o mais engraçado da palavra Messias? É um conceito
Judaico. Em Israel acreditava-se na vinda de um humano à nação para que essa fosse reconstruida. Esse humano era Jesus, o Messias. O que se torna engraçado, judeus
e cristãos... Enfim.
Em relação às frases soltas, que são ditas pelo Senhor
Padre, não estou a exagerar. Ora vejamos:
“Nós fomos criados para salvar o
mundo. Há muita maldade lá fora. S.Miguel era um arcanjo. Um arcanjo é um anjo.
Os arcanjos são mais poderosos que os anjos. E o que é um anjo? Anjo é aquele
que transmite uma mensagem, é um mensageiro. Um arcanjo é um mensageiro mais poderoso.Um dia o céu foi invadido pelo mal
e S.Miguel arcanjo combateu-o. Lutou contra o mal e protegeu o céu. É daí que
surge a sua imagem da seta espetada na serpente.”
Por onde começar? Pela ótima qualidade de contador de
histórias em frases pseudo-simples ou pela não-violência que a igreja defende? Que me
lembre, no início disseram que um anjo era um mensageiro, não um soldado com
asas e setas como a Brave.
Continuando nas curiosidades, que de certa forma é
impossível evitar na questão da religião católica, ocorre-me o assunto dos
andores. Se não sabem o que são andores, são umas pirâmides floridas com um
boneco de porcelana no topo. Normalmente são levados por quatro “valentões”. E
já se sabe porque pus as aspas. Se dividirmos aquele peso pelos quatro, fica
mais leve do que transportar uma mochila do primeiro ciclo.
Avançando, na capelinha tinha dois destes andores. Um com cravos vermelhos e outro com cravos cor-de-rosa. (Prometo ignorar o símbolo da revolução aqui presente.) As senhoras iam chegando, dirigiam-se aos andores, agachavam-se a uma lata de Nivea cheia de alfinetes, pegavam na nota e espetavam-na numa fitinha que saía de S.Miguel. Eu dei-me ao trabalho de contar o dinheiro, e não porque queria saber à força, mas porque tinha tempo suficiente para o contar. Aliás, até queria saber, só para o meu cérebro provar aos meus olhos que aquilo era verdade. Estavam lá 600 e tal euros. Ora bem, quanta Milaneza, aspirinas, arroz e roupa dá para comprar? Eu ainda perguntei à minha avó o porquê de encherem a fitinha de bens materiais, ao qual ela me responde que eram promessas para o santo padroeiro. Ok. Só para que saibam, pessoas que espetam alfinetes nas fitas dos andores, aquele dinheiro vai para a igreja comprar incensos e velas cor de marfim. Vai para o IMI do Sacerdote, ou então vai para um cofre que mais tarde é esbanjado na construção de uma Matriz de dois milhões de euros, como foi no caso de Viana do Castelo.
Avançando, na capelinha tinha dois destes andores. Um com cravos vermelhos e outro com cravos cor-de-rosa. (Prometo ignorar o símbolo da revolução aqui presente.) As senhoras iam chegando, dirigiam-se aos andores, agachavam-se a uma lata de Nivea cheia de alfinetes, pegavam na nota e espetavam-na numa fitinha que saía de S.Miguel. Eu dei-me ao trabalho de contar o dinheiro, e não porque queria saber à força, mas porque tinha tempo suficiente para o contar. Aliás, até queria saber, só para o meu cérebro provar aos meus olhos que aquilo era verdade. Estavam lá 600 e tal euros. Ora bem, quanta Milaneza, aspirinas, arroz e roupa dá para comprar? Eu ainda perguntei à minha avó o porquê de encherem a fitinha de bens materiais, ao qual ela me responde que eram promessas para o santo padroeiro. Ok. Só para que saibam, pessoas que espetam alfinetes nas fitas dos andores, aquele dinheiro vai para a igreja comprar incensos e velas cor de marfim. Vai para o IMI do Sacerdote, ou então vai para um cofre que mais tarde é esbanjado na construção de uma Matriz de dois milhões de euros, como foi no caso de Viana do Castelo.
"O padre é um pregador da doutrina de cristo." Eu diria: um
padre é um cobrador da doutrina de cristo. Aquela atitude de cobrar às pessoas
para ler passagens ou histórias de própria autoria ainda me está atravessada. O
Mensageiro de Deus é uma entidade privada! Eles é que estipulam o valor que
querem receber. Viva ó luxo.
Isto já deu muita discussão lá em casa, sobretudo quando as
pessoas confundem a lógica com o que se é feito há anos… “Sempre se deu
dinheiro para a igreja”. Ora bolas, sempre se deu, mas não tem lógica quando há
tanta gente a passar fome! Não eramos todos irmãos?
“Antigamente os padres
andavam a pé, e passavam necessidades” Logicamente que agora não, quem anda a
pé e passa necessidades é quem apoia o Pastor.
“Uma altura, como o padre ali de
Santa Comba andava muito a pé, a população juntou-se e comprou-lhe um carrito.”
Muito bem. Ao menos foi um negócio honesto e direto. Não foi a coincidência
de aparecer um Mercedes na porta das traseiras da igreja, quando no dia
anterior tinha havido uma promessa a algum arcanjo.
“Deus é nosso pai”. O meu conceito
de pai está um bocado desviado deste. O meu pai nunca deixou que me faltasse
nada, muito menos me fez pagar-lhe os ensinamentos da moral e da ética da
sociedade em si.
Eu acredito na ideia de que todas as religiões provocam a separação
entre os povos. Apesar de haver inúmeras religiões, o nosso país é
maioritariamente católico. Se eu sou? Bem, é uma pergunta profunda. Nasci numa família
cristã, segui todos os passos de um respeitoso cristão. Segui porque me fizeram
seguir. Se acredito numa entidade poderosa acima de todos nós? Não. A minha
mente é muito ligada à Teoria do Big Bang, ao ancestral comum e à pangeia de há
200 milhões de anos. A minha avó costuma dizer que andamos a estudar para estúpidos.
Estas teorias até podem nem passar de estupidezes, mas se querem intitula-las
como “estupidezes”, vamos antes intitular os 78 livros da Bíblia.
Adeus
Adeus
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