12 de junho de 2016

"Cada palavra dita é a voz de um morto"


Os anos passam e Pessoa imortaliza-se. 
Encontraram mais um. 
E quantos mais estarão por encontrar...



Cada palavra dita é a voz de um morto.
Quem na voz, não em si, viveu absorto.
Se ser Homem é pouco, e grande só
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.
Aniquilou-se quem se não velou.

Poema escrito por Fernando Pessoa na travessia do Atlântico, em 1918
Adeus

5 de junho de 2016

Perguntaram, respondi.

Quando entramos no mundo da universidade, entramos só e apenas nesse mesmo mundo, o da universidade. Nunca no mundo das notícias. Nunca no mundo real - que acontece todos os dias. A universidade não chega a ser um cheirinho daquilo que nos espera, mais tarde, na vida profissional. Digo-vos eu, que deixei as aulas há pouco mais de dois anos. 
Mas, quando é que tudo começa? Tudo começa na loucura de querermos ser jornalistas. No início não sabemos ao certo o que é ser jornalista. Alguns gostam só de escrever - sobre isto ou aquilo e não de algo em especifico. - Outros gostam de brilhar em frente à câmara e outros, os da rádio…esses já têm o bichinho bem entranhado e sabem sempre o que querem. Muitos pensam em ser jornalistas mas muitos outros nem sequer pensam em coisa alguma. Muitos dos que querem ser jornalistas desistem a meio caminho por falta de loucura, outros - aqueles que nem sequer pensavam em coisa alguma - ou são loucos e seguem o caminho dos jornais, ou lá se encaminham para outra área, de preferência que pague melhor e que seja mais tranquila. 
Trabalho em televisão desde que me licenciei em Ciências da Comunicação. Estou no meio dos média há bem pouco tempo e faço jornalismo de jornalismo. A televisão é isso mesmo, noticiar o noticiado. Noticiar do papel para a televisão. 
O dia a dia não é rosas. Ser jornalista televisivo tem muitas linhas para coser muitas meias. Vida de jornalista televisivo não é só fotografias na sala de caracterização/maquilhagem e gente gira a passear microfones com símbolos de diferentes estações. Há dias bons, há dias maus, há dias ótimos e há dias em que nos questionamos o porquê de não termos ido para padeiros, médicos ou músicos. 
Ser jornalista é saber que nada se sabe até tudo se saber. Nada é certo. Tudo é imprevisível. O mundo é imprevisível. A notícia é um acaso e o jornalista é o contador da história desse acaso. O jornalista tenta acompanhar o futuro mesmo sabendo que o presente é o protagonista da história. O jornalista não tem a vida programada, tanto acorda às quatro da manhã como se deita a essa hora.
Para se ser jornalista são necessárias três coisas. Resistência, curiosidade e claro, loucura. Só o louco sonha, só o louco alcança e só o louco consegue contar a história da melhor maneira possível e ser jornalista é isso mesmo, contar uma história da melhor maneira possível. 

Adeus