30 de novembro de 2015

Resta-nos ser livres

Há 80 anos morria o génio. 
Na altura, ninguém que por ele passava sabia quem ali estava. Não conheciam as personagens que lhe massacravam as noites, não sabiam das cartas que o alimentavam nem sabiam das verdades que se escondiam naquele baú de madeira. 
Naquele 30 de Novembro de 1935, marcaram-se, numa folha de papel velho, o nome e a hora de um génio, como faziam com qualquer outro protagonista da morte. Não sabiam, na altura, que aquele corpo era vítima de si próprio e que o papel dele era tudo o que a vida lhe queria. Ninguém sabia, naquele hospital, que aquele génio ficaria vivo até aos dias de hoje.
Ele escrevia para ser livre mas só conseguiu ser recordado. Recordado por todas as vidas que criou, por todos os sentimentos que escreveu, por todos os estados de alma que tinha e por apenas um amor. 
Fernando Nogueira Pessoa fazia hoje para ser recordado amanhã e nós, tal como ele nos diz na última frase que escreveu*, não sabemos o que o amanhã trará. Resta-nos ser génios de nós próprios, resta-nos ser livres, resta-nos fazer hoje para, quando o nosso nome for escrito no papel velho do hospital, sermos recordados por aquilo que de mais simples fizemos em vida: Termos sido livres.


* "I know not what tomorrow will bring"
29 de Novembro de 1935 



Fernando Nogueira Pessoa
(13 de Junho de 1888 - 30 Novembro de 1935)

Adeus

12 de novembro de 2015

As filhas bilingues

Dezassete e cinquenta e dois, alfa, sentido Lisboa-Porto.
Duas irmãs, entre os sete/nove anos e com diferença de um ou dois entre elas. Vestimentas iguais, cor-de-rosa choque e, nos peitos, um "RL" - presume-se que sejam as iniciais da Ralph Lauren. Falam pelos cotovelos e falam em duas línguas. Inglês do Reino Unido e um português de Portugal com um sotaque a inclinar para o português do Brasil. A mãe, cabelo negro, olhos do mesmo tom, pele ligeiramente morena, claramente de origem indiana e fisicamente igual a Mindy Kaling. O “vovô” e a “vovó”, como as pequenas lhes chamam, nos bancos ao lado. Estes avós são portugueses. Ele lê o Expresso e ela, enquanto coloca vaselina à volta dos olhos, lê a Maria. Nota-se o sotaque do norte quando perguntam às netas se querem o lanchinho que lhes trouxeram. As irmãs falam alto, e muito, não fossem elas crianças bilingues. Misturam o inglês com o português enquanto discutem quem adivinha as respostas de um jogo de traduções. Espalharam as folhas e as canetas na mesa dobravel do comboio, que haviam tirado da bolsa roxa que gritava o fenómeno Violeta, o qual, percebo agora, também chegou ao Reino Unido. Se a mãe ajuda nas respostas… elas gritam logo: "Pára de guess, pára de guess!". O vovô pede-lhes para falarem mais baixo mas pouco lhe adianta, até porque o jogo está a ficar divertido e o resto da carruagem já está a aceitar o nível dos decibéis.
Atrás de mim está alguém ao telefone, a falar de programação, projetos e versões de alguma tecnologia qualquer. Não conheço a pessoa mas não me vou atrever a virar o pescoço a 180 graus só para poder associar uma cara à voz que já estou a ouvir há uma hora. Longe de mim estar a furar onde não devo mas os meus ouvidos são livres e o meu cérebro acompanha-os. O discurso faz dele alguém eloquente, assertivo, rigoroso e profissional. Fala da sapo, da galp e de produtos importantes que pediram à empresa onde ele trabalha. Enquanto, por um lado, grita estrangeirismos tecnológicos, por outro, solta um “pá” e “gajos” mas nada disso faz dele menos credível. Uma das crianças, após tanta jogatina com a irmã e com a mãe Mindy, decidiu ficar enjoada. Enquanto trocam de lugares entre elas, a televisão mostra uma aula de ioga para cães. A criança decide piorar do enjoo e a mãe Mindy, como mãe coruja que é, vai procurar um saco para a filha bilingue vomitar. Toda a carruagem ouviu a viagem do almoço da menina para o saco que a mãe encontrou. Enquanto o almoço saía, os “upgrades do gajo” de trás estão a “correr muito bem” para que “já na segunda feira se façam os testes”. O vovô português está preocupado com a neta e a vovó já dorme; aquele dormir que só as avós têm. Aquele dormir em que, ao serem acordadas, afirmam que não estavam a dormir e que estavam "a ver a novela".
O meu vizinho do banco está a ler Pedro Mexia e, lá atrás e provavelmente ao lado do “gajo” da programação, está um casal de italianos. Oiço-os a falarem de pizza e de massas com molho de tomate. Mentira. Não é disso que falam, pelo menos fora do meu cérebro. As crianças bilingues já acalmaram, o vovô está quase a terminar o jornal, o programa de ioga para cães já acabou, o programador continua a sua reunião via telefone e eu…eu estou prestes a ir buscar um saco para mim, bem parecido com aquele que a mãe Mindy foi buscar para a cria.

Adeus

10 de outubro de 2015

Basta um olhar

Não têm medo do casamento?
Saber que nos estamos a comprometer a não nos cairmos de queixos por mais alguém....Que decisão difícil. É tão fácil cair de queixos. É tão fácil gostar. É tão fácil. Basta um olhar. Bastam um olhar e umas palavras e já está. Espetamo-nos na aventura da sedução e só reparamos nisso quando já lançamos, entre corredores, olhares, sorrisos e mais um olhar. Quando, no escritório, já trocamos de caminhos só para passar à frente da secretária dele. Sabemos, a este ponto, que está tudo entornado e às tantas já nos olhamos ao espelho a pensarmos: - O que estás a fazer? 
É tão natural seduzir e ser seduzido. É tão bom sentir os olhos dele em nós. É tão confortável adormecer a criar diálogos inexistentes. Já está. Já estamos comprometidas a cada movimento dele. E, enquanto pensamos no quão bom seria esbarrar contra a satisfação, ao nosso lado está quem espera o nosso olhar, o nosso sorriso e o nosso outro olhar. Somos egoístas e continuamos a pensar no quão bom seria aquele intervalo para o café. Adormecemos. No dia a seguir, vamos pelo terceiro corredor cruzado, com um café já frio na mão e esbarramos contra ele, o desejo. Não sujamos a camisa com café mas sujamos a dignidade. Ele beija-nos. Nesse segundo pensamos em quem está à espera do nosso olhar, do nosso sorriso e do nosso outro olhar, em casa, ao fim do dia. Somos egoístas e beijamos de volta. E agora? Perguntamo-nos. Não deveria ter cruzado o corredor.



Adeus  

17 de setembro de 2015

Imagino o dia em que me apareces à porta

Imagino o dia em que me apareces à porta. Imagino a minha reação e todos os dias imagino uma diferente. Não compreendo o limite do que amo. Amo tanto. Amo-te tanto. Todos os dias. E amanhã... odeio-te. Odeio-te tanto.
Espero que a minha reação seja como aquela que te viu ir embora, enquanto de empurrei pelo elevador. Essa seria a reação que imagino neste instante. Não quereres ir. Empurrar-te. Saber que fomos felizes. Saber que vais voltar em minutos. 
Nunca o sol brilhou tanto naquela cidade. Acordou feliz e adormeceu aconchegado. Vivemos. Rimos. Conversamos. Lemos. Ouvimos. Dançamos contemporânea. Fomos felizes. Sei que sou feliz quando danço contemporânea no chão do quarto. 
E tu? Livre. Sempre foste. Como um pássaro. E que bem que ficava um jogo de nomes de pássaros com o teu nome. Que bem que ficava. Que saudades de juntar qualquer palavra com as vogais do teu nome e disso resultar palavras como mamélsias. Essa foi a minha melhor criação e tu, ao ouvi-la, gritaste, com toda a força e como só tu sabes fazê-lo. Que grito. Que voz. 
Não vou fazer mais jogos de nomes. Não vou pensar mais no sol que brilhava lá fora enquanto se dançava no chão. Sabes porquê? Porque a música já não é a mesma e tu...tu foste embora de empurrão e nunca vais voltaste. Eu? Eu vou tirar a mão do queixo e não vou pensar mais nisto. Imagino o dia em que me apareces à porta. Imagino a minha reação. Espero que seja aquela que deveria ter tido quando te empurrei para o elevador. Aquela que eu queria ter tido se soubesse que nunca mais voltarias. 
Eu sei que fui eu quem te empurrou. Eu sei. Culpa-me por isso. Culpo-te por tanta outra coisa. Não me perguntes por que razão me fui embora. Ainda não sei responder-te. Não o faças. Nunca mais o faças. Cada letra dessa pergunta é dor. 
Se valeu a pena? Imagino o dia em que me apareces à porta.



Adeus

A liberdade

"A liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo." 
Ai, Jorge Palma...

Adeus

O número é o mesmo

Estava com medo que nunca mais viesses aqui. Estás aí. Eu sei que estás aí. Foges de tudo, não é? 
Sabes que te vão dizer as mesmas palavras até deixares de seres como tens sido. Não interessa. Não é isso que quero que saibas. Sábado é para nós, sabes? Mais para mim do que para ti, é verdade. Tu lembras-te do primeiro, tal como eu. E do segundo, que a garcia atirou para praça pública. Vão estar todos lá, em papel. Todos. São teus, e tu sabes. São nossos. Quero saber de ti. Nunca te senti tão longe. Onde paraste, desta vez? Continuas a cozinhar às 4 da manhã? Continuas a ser a Consuela que todos querem ter em casa? Continuas a respirar alto e a falar à tenor? Continuas a ver o Hollywood enquanto passas a língua na mortalha e a ostentar o nariz como nada fosse? Continuas a ser irónico, arrogante e insolente, como o pavão um dia disse? Liga-me, o número é o mesmo.

Adeus

23 de agosto de 2015

Turco

Estou de férias, amigos.
Daqui a poucos dias regresso cheia de fotografias deste grande passeio.
Fiquem com um turco que por lá encontrei.



Adeus

29 de junho de 2015

Que tramada fui

Silenciamos tudo e nada nos serviu
O cheiro que não tens
Não ter decidido nada
Desculpa se assim foi
Desculpa-me a trapalhada.
Devagar, fomo-nos dando
Rápido nos afastamos
Não por ti, pelos dois
Não por ti, mas por amarmos
Por tudo e por tudo, 
Por nós e pelo calor
Que sabes tanto de mim
E eu de ti só o amor
Sabemos tanto, tanto,
Sabemos tanto um do outro
Foi esplêndido
Tudo esplêndido
Do mar à terra e do centro ao lado
Foi tão mas tão...
Foi tocar no sol
No conforto de um lar
Foi tocar em ti
Ah, aquilo foi amar
És o lar sem cheiro
És o lar com voz
És o lar que me faz respirar
És o lar dos olhos cinzentos com chuva
Azul com o céu e verdes ao olhar
Respiraste-me alegria, paixão e Vida
O sossego éramos nós
Éramos tudo o que queria
Que tramada fui por desistir
Do lar que tanto éramos
Que tramada fui por nos iludir
Que isto tudo era eterno



Adeus

24 de junho de 2015

Não me venham falar disso

Odeio o Porto e odeio o São João.
Odeio, odeio, odeio.
De cá de dentro...vomito tristeza. 
Esta noite de 23 para 24 dá-me náuseas.
Mesmo no meio da felicidade, das brasas para assar o robalo - porque nem sardinhas já havia - dos amigos, dos manjericos, e dizem, do amor, aquela noite conseguiu ser a mais infeliz da minha vida - De mim para mim e comigo mesma.
Completamente impotente e vendo a felicidade ao lado de Júpiter.
Aguentei tudo mas caí. 
Agora...aguento tudo e às vezes caio.
Não quis ver os jornais da noite de hoje, porque as memórias iriam chegar.
Não quis abrir videos no instagram, porque os sons dos martelos iriam soar-me mal.
Não quis terminar de ler estados que falassem disto.
Que dia tão feio, festivo para uns e fucked up para outros.
Não me venham falar de martelos nem de sardinhas.
Não me venham falar do fogo de artifício e não me venham falar daquela cumplicidade toda.
Não me venham falar do Porto. 
Nunca fui feliz naquela cidade.
E nem lhe vou dar essa hipótese. 

Obrigada, galão de freixo.
De mim para ti.


Adeus

23 de junho de 2015

What is love?

Tudo dito.

Orange is the new black

Adeus

Pedaço de humor

Sim, hoje fez-se história na minha vida amorosa.
Entrei para este grupo no facebook. Não poderia estar mais orgulhosa.


Agora a sério. Cada postagem é um pedaço de humor. Vale a pena. 

Adeus

Parabéns à criança dos meus olhos

O meu único primo nasceu neste dia, há dois anos. Estive 18 horas no bloco de partos. Vi-o nascer, vi-o crescer e agora vejo-o somar anos. É difícil pensarmos que a vida passa rápido mas é tão bom quando o bebé que vimos chorar pela sua primeira vez já corre e destrói tudo em casa. Habituamo-nos à banda sonora do canal Panda e os Caricas passam a ser os nossos Dire Straits. Quando o vou buscar ao infantário fica tão feliz de me ver e eu fico de coração cheio por ele gostar tanto de mim. A verdade é que ele até ficaria feliz de ver o lobo mau, se esse o tirasse do infantário. Quando chega lá a casa, as gatas fogem-lhe como não houvesse amanhã. Percebo-as. Ele faz delas gato sapato. Corre atrás das bichas a soltar gargalhadas, puxa-lhes os bigodes, empurra-as para se deitarem e dá-lhes palmadas - pensa ele que de carinho - em todo o corpo. Elas obedecem e não lhe fazem mal. Ele adora azucrinar as minhas princesas e eu deixo. Deixo porque ele é o meu príncipe. Gosto tanto dele. É parte de mim, mesmo não sendo. Um dia, na noite de ano novo, desejei que a minha tia nos desse uma alegria destas. E que alegria foi. E que alegria é.
Parabéns à criança dos meus olhos. Parabéns ao "jeitoso". Parabéns ao Eduardo.




Adeus

21 de junho de 2015

Ainda há génios vivos

Hoje fiquei na praia até àquela hora de sol confortável. Aquele sol que não queima na pele mas que aquece. Aquela altura do dia em que os óculos de sol são recolhidos e tudo fica mais livre, mais suave e mais quente ao olhar. 
Quando subi as escadas de casa já eram oito e meia e eu a meia hora do início de um concerto que tinha prometido ver. Faltava-me tomar banho, vestir-me, jantar e chegar ao Chiado. Parecia-me impossível mas na meta estava Jorge Palma e rápido quebrei as barreiras. 
Rodei a chave, atirei com tudo para cima da cama, peguei na toalha da cabeça, no roupão e abri a água morna. 
Sentia entusiasmo e o pouco tempo que tinha nem permitiu que a ansiedade viesse incomodar.
Peguei na pulseira do pé, no relógio, no batom, no anel olho de tigre e espetei tudo na mala. Enquanto descia as escadas já o relógio agarrava o meu pulso e o anel estava pronto a juntar-se ao indicador.
Uns metros a compor-me e rápido cheguei à parte em que deixei de ter qualquer responsabilidade no relógio. A parte do transporte. Sabia que podia estar até quinze minutos à espera do 15E. No momento em que cheguei à paragem vi que faltava um minuto. Digo-vos, meus caros, não há nada melhor do que ver um minuto no placar da Carris. Pus o meu batom vermelho no elétrico, com uma plateia de dois indianos e alguns estrangeiros. Não estava com pudores, ia ver Jorge Palma e queria estar bonita. 
O jantar ficou adiado e o meu estômago, como não tem olhos nem ouvidos, pouco quis saber onde eu ia e queixava-se como nunca. 
Corri com o GPS na mão e lá cheguei, ao Teatro São Luiz. 
Enquanto comprava o bilhete já lhe ouvia a voz. Entrei nas palmas da segunda música. Sentei-me. Por momentos nem acreditei que estava ali, depois de tanta correria.
Só foram precisos dois segundos para tudo valer a pena. A voz, as notas do piano, os cabelos cinzentos, o suor e a saliva que saltava a cada verso, visível através da luz que cruzava o palco. Dois segundos foram suficientes para encher os olhos de lágrimas. Não por ser o Jorge Palma, a pessoa  atrás do artista, mas por serem aquelas letras, aquele compositor, aquele cérebro, aquele momento e aquelas músicas, que tanto significam.
O fim do concerto foi a gota de água, literalmente. Talvez o universo lhe tenha dito mas a minha favorita era mesmo aquela última, A gente vai continuar. Completamente arrebatador. Senti tanto que desse tanto pouco pensei sentir. Senti-me leve e feliz. Aquelas notas fizeram-me infinita. 
Pousei nas nuvens e nada existia para além da audição. Naquele momento reencontrei-me. E que belo encontro que foi.
O concerto era dividido com a fadista Aldina Duarte. Não a conhecia em palco e impressionou-me. Senti o fado como deve ser sentido, a tremer nos últimos versos. Culpam-se as letras anteriores de Palma, é certo, mas a verdade é que até Aldina Duarte o referiu como um génio e disse que se houve alguém que a ensinou a conjugar o verbo Sonhar, foi ele. Eu diria que com ele aprendi a conjugação do verbo Amar. Ninguém escreve tão bem amor em música. No bairro do amor do mundo de Palma, não há prisões nem hospitais e cada um tem de tratar das suas nódoas negras sentimentais. E, enquanto eu tiro a mão do queixo e não penso mais nisto,  penso que o que lá vai já deu o que tinha a dar. Mas...é nestes momentos que me submeto a um estado de nada. A um choque pós reencontro. É nestes momentos em que atinjo o estado em que enquanto houver estrada para andar, penso que a gente vai continuar. 



Itálicos de Jorge Palma: "Bairro do Amor" e "A gente vai continuar".

Adeus

13 de junho de 2015

Para ti, Marília finalista.



Se há nome que digo quando me perguntam se tenho amigos de longa data, é o teu. Para além de seres uma das grandes que ficou de sempre e para sempre, estás quase a tornar-te na minha médica favorita. Oh yeah, you read right. The sexy doctor is here.
Estás a ver aquelas vidas num hospital, cheias de emoção, amores, sucessos, filhos lindos, casa linda, tudo lindo? Que dão para fazer dramas televisivos e imensos filmes? É a vida que eu vejo para ti no meu cérebro. Nunca vou esquecer quem me ensinou a nadar na cama com a touca da Bélgica, quem comeu um pedaço de bolo caído no chão e disse: o que não mata engorda. E os teus conselhos que nunca morrem? São os únicos que oiço a sério. De adolescente croma, como éramos, tornaste-te numa mulher incrível. 
Os meus parabéns a uma das pessoas mais inteligentes e aplicadas que conheci. Tu deixas a preguiça com vergonha de existir. 
Beijos mil, da picos.




Adeus

31 de maio de 2015

O Marão guardou o sol

30 de Maio de 2015

Por muito que não voltasses
Eu puxava-te e imaginava
Quando um dia nos amasses
E como estaria alucinada.

Como eucalipto resisti
A tempestades tenebrosas
E sempre me mantive ali
Com poesias vergonhosas

Do tanto que te conheço
Muito do pouco eu sabia
Que de muito te mereço
E que sempre te amaria.

Cheguei ao céu e tu, polar
A simone gritava pecador 
Promessas que queriam tornar
E a anos-luz de qualquer dor!

O Marão guardou o sol
Prometeste vê-lo nascer
O presente fez-te esquecer
E nós a apodrecer

O Marão guardou o sol,
Segredos e confissões.
Nós guardamos a saudade,
sonhos e projeções.

Depois de tantos sóis e juras de parte
Sei com sentido e posso contar-te
Que mais especial do que aquela vila
Só mesmo a estrela e o amar-te.


 Adeus

18 de maio de 2015

Quem acredita vai

Disseram-me que só acreditavam no meu blog se eu respondesse a este questionário da treta. Eu quero que acreditem, porque quem acredita vai.

Riam-se, por favor. 

Signo? Gémeos (Maio, o mês dos malucos.)
Orientação Sexual? Demissexual
Escola? – lol?
Melhor amigo/a? Afonsinha do Bale e Moura
Namorado/a? Contam-se pelos dedos de uma centopeia. 
Última mensagem? – Telepizza
Última chamada? – Avó
Última coisa que comeste? Este texto da treta. 
Última música que ouviste?


Sais hoje? Porque tens muito a ver com isso.
O que é que estavas a fazer há 1 hora? A procurar o verniz novo cor de rosa que me desapareceu. 
É este: Se o virem, digam.


Estás à espera do quê? Da minha mãe para irmos ao Dia comprar café porque o do continente é nhaque. (I still love you, sonae)
Foste vestido/a de quê no carnaval? No último carnaval fui vestida de Toalha de Mesa. 
Oh i'm serious.


Sexo e a Cidade ou Sobrenatural? – lol?
Bob Marley ou Eminem? - Eminem but lol?
Gostas de ver filmes de terror? Se gosto de filmes da treta?
Última vez que tomaste banho? No dia de nossa senhora de Fátima.
És de ter relações ou casos de uma noite? E se for no Alasca?
Quantas almofadas usas para dormir? Duas e meia
De que cor são as paredes do teu quarto? De qual deles?
Cama de casal ou de solteiro? Cama de casal de três pessoas mas na verdade cabem 4, na boa. 
Televisão no quarto? Quarto sem televisão é pior do que verão sem sol.


O que diz a tua 7ª mensagem? "Carregue o seu yorn..."
O que diz a tua 10º mensagem? "Carregue o seu yorn" - para verem a afluência do meu telemóvel. 
Quem é o teu 69º contacto? Sim, porque nós temos 16 anos e eu já estou a contar os contactos.
Recebeste alguma carta no dia dos namorados? Se tivesse recebido estaria aqui a escrever isto, de certezinha.


Artes, ciências, humanidades, economia ou profissional? Ciências. Sempre fui gaja de escolher o caminho mais difícil. 
Escola secundária? há uns 5 anos.
A que disciplina tens melhores notas? Tinha a psicologia e a filosofia. 
Bebidas com ou sem gás? - Sem, por favor.
Se olhares para a direita qual é a primeira coisa que vês? A minha vida a andar para trás.
Estás a pensar em casar-te? Em Las Vegas.


Pretendes ter filhos? Não sei se consigo fazê-los sozinha. 
Tens fotolog? Isso é tão 2007.
Tatuagens? Nandinho



Piercings? Neevaa.
Olhos azuis, verdes ou castanhos? Verdes é para os amantes, azuis para casar e castanhos para os amigos. 
Loiros/as, Morenos/as ou Ruivos/as? Isto é o Quem é Quem?
O teu boy/girl tem de ser sexy, bonito, engraçado, inteligente ou sincero, escolhe 3 destes: - Ai ri-me muito com o "teu boy". Arrisco-me a escolher a essencial. Inteligência. 
Gelados ou chocolates? – Que tipo de pergunta é esta? Chocolate, sempre. 
Mac ou burger king? – Noodles.
Diz nomes de rapazes que gostes muito: O Jason Bateman, que está aqui ao meu lado, está a dizer-me que fica chateado se não for mencionado. Done, Jason.
Diz nomes de raparigas que gostes muito: - Mãe Paula, amiga joana, amiga cátia. Amor infinito. 
Fumas? Nunca toquei em tabaco.
Bebes? Água, naturalmente. 
O que te irrita mais? Falta de inteligência. 
O que não gostas que te aconteça logo de manhã? Cair em cima de uma balança e, acidentalmente, ver o meu peso. 
Qual a expressão/palavra que mais usas? Como assim? - é mesmo esta. 
Gostas de andar de patins? Os Jardins de Belém sempre me apoiaram, literalmente.

Um vídeo publicado por Ana Serapicos (@anaserapicos) a

Estás online no MSN? Sim, porque estamos em 2005 e o MSN é o hit. 
Música favorita: Oh, meu caro Variações. Canção do Engate.
Maior paixão: Gatas, natação, vernizes e a língua portuguesa. 
Tens animais de estimação? Tenho princesas de estimação.

Uma foto publicada por Ana Serapicos (@anaserapicos) a

Sabes guardar um segredo? E tu, sabes guardar este questionário numa gaveta? 
Onde estavas ontem por esta hora? Na meia maratona do douro. Mentira. Estava no sofá.
O que vais fazer amanhã? Sobreviver e comprar outro verniz cor-de-rosa porque o novo desapareceu. 
Este é o melhor ano da tua vida? Eu espero bem que não.
Escreve o que te apetecer: i'm not doing that, believe me. 
Qual o teu nome preferido? Regina Falange.


O que estás a ouvir? 


Sentes falta de algo? De não escrever isto.
Achas-te capaz de deixar tudo por alguém? Been there e a resposta é não. 
Já passaste por algum momento embaraçoso? Oh meu amigo, quantos. Tamanhos eles. 
Que horas são? Horas de comer o pão. 
Consideras-te uma pessoa única? Se não me considerasse única ou era maluca ou era Fernando pessoa. 
Achas que alguém te ama? Certamente, num universo paralelo. 

Adeus

To the moon

O meu livro, tal como o da Lena Dunham, vai começar assim:

I'm not happy with myself.
I'm just gonna take a walk. 
A long walk to the moon.

Adeus


16 de maio de 2015

Is that true?

Bem, parece que a TimTim me nomeou para:

Vamos lá, 25 coisinhas sobre mim.
20 são verdade, 5 nem por isso. 

1. Não como carne de porco, nem coelho, nem cordeiro.
2. Falo mais baixo do que é considerado normal
3. Tenho três gatas pretas adotadas
4. O meu pai trabalha para os E.U.A e fala 5 línguas.
5.  Odeio a Austrália, têm a mania que são espetaculares. 
6. Odeio estender roupa
7. Adoro lavar louça. 
8. Quero ir estudar para a NYU
9. Sou capaz de ir ao cinema sozinha só porque me apetece
10. Adoro Shameless, Friends e Californication
11. Casava com o Jason Bateman.
12. Faço 23 anos no dia 23 de Maio.
13. O meu ator favorito é o Jim Carrey.
14. Estou a tratar dos papéis para ir durante um ano para a Tailândia.
15. Já fui Campeã nacional de Natação.
16. Nasci em Mirandela
17.  O meu sonho é fazer parte da SNL team
18. Morro aos poucos quando estou de férias
19. Odeio chocolate e tudo o que o tenha
20. Sou fã de Cultura Americana
21. Dizem que sou igual à minha mãe
22. Tenho tanta sorte no amor como em ser magra
23. Já desfilei para uma marca de lingerie
24. Sou liberal ao ponto de ter tido namorados bissexuais.
25. Adoro bacalhau com natas e jardineira. 

Well, that's it.
5 mentirinhas e meia que são tão 
fáceis de descobrir para quem me conhece...

Não nomeio ninguém. Até porque não tenho assim tanta gente para nomear.

Adeus

8 de maio de 2015

A Fox não sabe o que faz

Como assim, Fox? Cancelas a melhor série que tens passado?


Eu entendo. É uma comédia inteligente e pouca gente a percebe. Mas...The Mindy Project é toda uma Mindy, médica e em Nova Iorque. 
Plus, tudo o que tenha, sequer, um dedinho da Mindy é bom. E, já que estamos no assunto - e vamos estar até ao final dos dias deste mundo - The Mindy Project é escrito, produzido e representado pela Mindy Kaling. How cool is that? 
A Fox não sabe o que faz mas há alguém que sabe. Sim, fãs; eu, tu e eu outra vez. A série não termina aqui só porque a Fox se lembrou de se esquecer da qualidade do que tinha em mãos. A Hulo, um canal na internet, pegou no tvshow e já prometeu uma 4ª temporada. YEAH. Festejos para mim, para todos e para mim outra vez. Ah, e para a pug Vale também. Ela gosta muito da Mindy. 
Claro, fui eu que a pus a ver. Cof.  
<3 MINDY <3
...but, Fox, 


Adeus

4 de maio de 2015

O dia em que nascemos define quem somos?

O mais engraçado desta treta toda é que nada está errado.
Euzinha, descrita por um site acabado em br e inundado de tretas. 

Adeus

2 de maio de 2015

Clinique & Mindy


Mindy Kaling at "Is Everyone Hanging Out Without Me?"

Adeus

Até já, cidade maravilhosa.

Voltar a Vila Real é sempre um misto de emoções. As memórias, os sítios, as pronúncias, as curvas da ip4, os constantes menos dois graus em relação ao resto do país, os caloiros que já não são caloiros, as paixões, as amizades, os que nos são indiferentes mas que, ao lá chegarmos, até nos fazem sentir bem só de lhe pormos a vista em cima, os mais velhinhos nos bancos do mercado, o pôr do sol e o nascer dele, a música alta, a música baixa, a descontração que não existe na capital, os cheiros, as pessoas e claro, os cheiros das pessoas. 
Aquele casal que vende os bilhetes não sabe mas cada vez que vamos à rede expressos, dá-nos um aperto tão forte no coração que torna a subida do Marão a viagem mais nostálgica de sempre. Vila Real tem esse efeito em nós, fica com um bocado de cada um. Foi lá que encontramos a segunda família, foi lá que nos encontramos a nós. Quando me perguntam o porquê de gostar de Vila Real, digo que não gosto de Vila Real pela cidade em si. Gosto de Vila Real pelas pessoas que lá conheci. Gosto de Vila Real porque foi a cidade que me mudou a vida. E lá.. fui sempre feliz. 
Até já, cidade maravilhosa. 

Adeus

23 de abril de 2015

Tomar um café adolescente

Viver no centro é ir tomar café debaixo de casa e sem carteiras nem bolsas.


Adorando a fotografia à adolescente de 17 anos. 
Só falta a duckface

Adeus

20 de abril de 2015

Não foi fácil

Hoje fui ao Solinca. 
(um dos melhores ginásios do país, pertencente à Sonae, claro)
A minha força de vontade é incredulamente enorme. Falo da vontade de comer, claro. É de uma coisa incontrolável, insaciável e incansável, que nem vos sei explicar por outras palavras que não comecem por i.
Hoje decidi que a minha força de vontade em ser mais saudável vai tornar-se superior. Eu sou saudável. A Sério que sou. Como fui nadadora de alta competição... tem-me sido difícil, ao longo do tempo, equilibrar o que como com o que gasto. Parece fácil, meus amigos, mas não é. Sobretudo para mim, que treinava 8 vezes por semana, cerca de 3 horas por treino. Estava habituada a comer um pratão de tudo com tudo às refeições e um lanche que podia envolver mais de 3 pães. "Uiiiii, tanta comida!" - Estão vocês a pensar. - Entendo-vos. Os atletas comem. E muito. Se eu comesse agora o que comia na altura....nem conseguiria chegar a este teclado para vos comunicar, de tão grande que estava.
Desde sempre que como legumes. Gosto de tudo que é plantável, excepto grelos. Nhaque para os grelos. Aquele sabor a amargo...ninguém compreende. Açúcar naquilo. Açúcar não, mas, sei lá, fogo ou qualquer coisa que os faça desaparecer.
Alho francês, cenouras, pimentos, beringelas, courgettes, alface, todos os tipos de couve, brócolos, etc.. etc.. Sim. 
Grelos, nunca.
Fui logo de manhã fazer uma aula de RPM. Para quem não sabe o que significa, RPM é um programa de treino de cycle indoor. Resumindo, pões-te em cima duma bicicleta e dás-lhe bem forte, ao som de música (horrível) e dos incentivos (gritos) do treinador. Parece fácil, mas não é, meus amigos. (again)
Ao meu lado ficou uma senhora com os seus 60, que me ajudou a pôr a bicicleta no sitio, logo no início da aula. O corpo dela dava lições a todos os outros que estavam na sala. Aquela senhora humilhou-me durante 45 minutos e nem ela percebeu. No entanto, admirei-a, do início ao fim. Não cedeu, não parou, não abrandou e enquanto uns escorriam suor...ela estava só assim... abrilhantada. Não cheguei a entender aquela força da natureza. 
Eu já treinei muito mas este RPM...Saí de lá com vontade de vomitar e não cumpri os incentivos (gritos) a 100%. Arrebentei-me todinha. Terminei a aula como se tivesse mergulhado vestida numa piscina e cheguei a casa ainda com vontade de cuspir um rim. Não foi fácil.
Se hoje nem me mexo, amanhã vou estar acamada, já sei.

Esta sou eu, no elevador de casa, em quase morte física, cabelo molhado e a pior das caras.

Adeus

15 de abril de 2015

Rachel Green ou Monica Geller?

É isso mesmo. 
Mais um quiz do BuzzFeed
Começo a adorar este site. 


Claro que sou a Monica, mas há dúvidas?


Last but not least:

Adeus


Ninguém nos disse

Porque é que ninguém nos disse que ia ser difícil vir embora? Sim, disseram que iam ser os melhores tempos das nossas vidas, que íamos fazer amigos para a vida mas nunca nos falaram de dizer adeus a muitos deles. Os nossos pais viam-nos ir embora com sentimentos chapados na cara que nós nunca chegamos a entender nem sequer nos atrevemos a perguntar. Nós iamos felizes. Era o começar de mais uma semana perto dos amigos, perto dos horários mal estabelecidos e perto das piores refeições que alguma vez tivemos. Nada nos importa quando somos felizes. Comer a massa ou o atum de sempre era o quotidiano e uma hambúrguer com batatas fritas apareciam muitas vezes nas escolhas. Isso não importava. Nunca foi o mais importante. Quando vivemos fora da casa dos pais os jantares passam a ser reuniões sociais e os almoços, se existentes, passam a ser refeições de sobrevivência. Sandes é sempre uma boa opção.
A sexta feira aparecia e lá íamos nós. 
Um Adeus e um bom fim de semana eram tão naturais como um até amanhã.
Agora, o adeus é um adeus. 

Adeus

Deixem espaço

Nós podemos ser tudo, estrelas, enormes, esplêndidos, fascinantes, grandiosos, sábios ou até estúpidos. E estúpidos até é o que mais somos.
Não são poucas as vezes que fazemos escolhas erradas, o que não quer dizer que tivessem sido fruto de decisões pensadas, ou sequer sentidas...mas no momento, alguma coisa nos levou a fazê-las. São muitos os exemplos mas fico-me pelo, sei lá...quando alguém troca Daft Punk por Coldplay. É só...estúpido.
Por aí dizem que o café esfria. Não é errado, ele esfria mas também dá para aquecê-lo umas quantas outras vezes, mesmo que tenhamos de esperar pelo plim do microondas.
Hoje estou cheia de analogias, até estou com medo.
Só para vos dizer, meus caros, deixem espaço para fazer asneiras. Deixem espaço para saltar do barco, esfriar o café e aquecê-lo novamente. Deixem espaço para ouvir coldplay. Deixem espaço para serem estúpidos.

Adeus

14 de abril de 2015

A Pequena aldeia de Marlón

II

O sol ainda não tinha espreitado e já Fospício e Patrício comiam as sopas de vinho.
Com os ante-braços estendidos sobre a mesa antiga de madeira, faziam-lhe aparecer sombras em movimento, de cada vez que levavam a colher à boca. O chilrear dos pássaros na árvore da entrada da casa, o engolir das sopas e o chiar da madeira já podre da mesa eram os únicos sons ouvidos àquelas horas.
Lídia, que teria sido a primeira a levantar-se para preparar as sopas, já havia lavado a roupa do filho e do marido, que tresandava a uma semana de peixe e a água salgada. Lídia ia para a ribeira com um cesto ainda a aldeia estava a dormir. Quando regressava a casa, preparava-se para estender nas árvores a roupa que tinha lavado na água doce. Daquela maneira, mal o sol nascia e já as vestes da toda a semana estariam a secar. Fospício e Patrício terminaram as sopas e logo correram para o pequeno barco de madeira. Era mais um dia que prometia ser bom para a pesca ao atum.
Nesses últimos dias o mar havia sido muito simpático para a família Verbitium e para o resto de toda a aldeia. Falavam de uma maré vinda do norte do Pacífico e, quando o norte vinha à conversa, centenas de atuns passavam ali na costa. A palavra "norte" era como uma dádiva para a aldeia, significava dias de atuns frescos e refeições garantidas. Quase toda a aldeia festejava quando uma maré vinha do pacífico-norte. Enfeitavam as casas com lenços azuis, em honra à Padroeira de Esmeraldas, e faziam banquetes ao ar livre, debaixo das árvores. Os Verbitium, os Rondas, os Salves e os órfãos reuniam-se no centro da pequena aldeia de Marlón, dançavam e cantavam enquanto assavam os atuns que os Verbitium tinham pescado pela manhã. Espetavam o peixe em paus de madeira e metiam cada uma das pontas dos paus em cima de pedras, as quais estavam distribuídas por toda a fogueira, em forma de círculo. Todos os marlóenses dançavam com as espetadas de atum na mão. Havia muito vinho e nem o pôr do sol dava ordem para terminar a festa. 
Os Areijos, a família abastada da aldeia, evitavam juntar-se com as outras famílias. Os Pais Areijos, Ambrósia e Henrique, não suportavam a ideia de um dos seus filhos conviver com os órfãos da aldeia.
- Olha para aqueles ajuntamentos desnecessários...um lugar cheio de órfãos a dançar! Eles só têm as roupas que trazem no corpo! Não têm as nossas terras, não têm uma banheira, nem sequer têm carroças de cavalos! Eles não têm nada! São órfãos! Como é que conseguem ser felizes? Perguntou Henrique.
- Não sei, meu marido. São loucos. Ninguém filho do Senhor consegue estar tão feliz sem nada nos bolsos. Só podem ser loucos. Deus perdoa os loucos...eles não sabem o que fazem nem sequer o que dizem. - Respondeu Ambrósia.
- Não quero nenhum dos nossos filhos naquele ajuntamento....Imagine, um dos nossos herdeiros a dançar ao lado de um órfão! Ou pior, ao lado dum órfão do padre de Penicas! Que ultraje! - dizia Henrique.
- Oh, meu rico marido, Deus nosso senhor não deixaria! - Respondia Ambrósia.
O sol pôs-se e ninguém quis regressar a casa. Os órfãos, agora loucos, e o resto dos marlóenses continuavam a assar atuns e a dançar. Henrique e Ambrósia já tinham recolhido e estavam prontos para fazer as rezas antes de se deitarem. Rezavam para que nada acontecesse à sua família. Mal eles sabiam que seis dos seus quinze filhos e quatro dos seus vinte e três empregados se tinham escapado para a festa. Afinal, eram marlóenses e gostavam de ser loucos por um dia.

Adeus