6 de março de 2015

Amor moderno

Sim, o que vos vou contar aconteceu.
Fui ao Hot club com a Lana e os amigos, os quais são todos músicos de Jazz
Para quem não sabe, o Hot Club é um espaço em Lisboa que é frequentado pelos melhores nomes do Jazz português e internacional. 
Era noite de Jam. Piano ali, trompete ali, saxofone a entrar, voz a improvisar, baixo, bateria e guitarras por todo lado.
Atrás do palco há um terraço fechado, dividido por uma porta de vidro bem pesadona. Nesse espaço tinha um balcão onde estavam dois rapazes muito nórdicos, a jogar ao Gamão.
A Lana foi logo toda lampeira pedir para jogar e eu fiz companhia.
Afinal os rapazes eram alemães e simpatia não lhes faltava. Estudavam arquitetura e iam ficar em Portugal mais 6 meses. Estivemos metade da noite a falar com eles e até fiquei a saber o nome do "Correio da Manhã" da Alemanha, ou seja, o pior jornal do país da Merkel. 
Quando tentaram falar português, apercebi-me de que estou muito aquém de saber alguma coisa de alemão. Na verdade, nada sei. Nicles, nem uma palavrinha. 
Provavelmente não os vou ver mais na vida mas foi um bom bocado.
- Moving on na história da noite - 
Qualidade musical a dar forte nos meus ouvidos, lá estava eu, encantada com todo o poder instrumental que para ali ia, naquele palco.
Músicos a subir ao palco, outros a descer e a minha atenção sempre dividida entre os de sopro e todos os outros.
De repente chega um saxofonista, rompe o palco, aparece na luz e roga-me, nesse imediato, pele de galinha.
Qual Dave Koz, qual quê. 
Aquele solo de sax foi de ir ao céu e ficar lá.
Determinada e pronta para uma boa brincadeira romântica, saquei um pedaço de papel da carteira e escrevi:
Roses are red
Violets are blue
I can be here all night
Listening to you
Não sabendo nada sobre ele, assinei no fim e tentei que este pedaço de poesia moderna lhe chegasse.
Alguém decidiu que íamos embora precisamente a meio da I fall in love too easily, do Chet Baker. 
- Pior decisão de sempre -
Ao sairmos, entreguei o papel ao empregado do balcão, o qual me disse: "Ai, não sei se consigo entregar porque me vou embora, nanana (...)" e pousou o papel no lugar mais obscuro do balcão. Deu a entender que aquele papel nunca iria chegar ao saxofonista. 
No caminho para casa iamos gargalhando com toda a situação. Afinal, tinha acabado de deixar o meu nome junto ao poema mais piroso na história da humanidade, com destino a um dos melhores saxofonistas da noite.
Isto é como ter a oportunidade de dizer alguma coisa ao Jorge Palma e ficar-me por: "Escreves totil".
A manhã seguinte chegou, pego no ipod e vejo no ecrã: "Enrique (...) enviou-te um pedido de amizade".
Soltei um "' 'Tás a gozaaaaar " em alto e bom som e não pude acreditar, ao abrir todos os links e links, que era mesmo ele. 
É espanhol e disse-me no chat "Me llamou la atencion, nunca me habia pasado".

Migas, estamos perante uma linda história de amor moderno. Pelo menos tem um início que conquista qualquer um. 
Aquele pedaço de literatura resultou e eu...eu mereço palmas.


I fall in love too easily, do Chet Baker nessa mesma noite.
Rita Maria na voz, Enrique no sax tenor, Diogo Duque no trompete, Gonçalo Neto na guitarra,  Bruno Pedroso na bateria e Romeu Tristão no contrabaixo. 
Desculpem o torcicolo. 

Adeus


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