24 de novembro de 2013

Que vicio é este que eu tenho? Este, de gostar de ti?

Sozinha com o meu pensamento
Crio suposições da permanência
Se estás lá não argumento
Entristeço e esgoto a paciência

Conformidade não me espanta
Arranca-me a consciência
Muito pouco me adianta
Tu é que escolhes a dependência

Escrevo-te e penso-te
Não sei de quantos modos vários
Olho-te e compenso-me
Mesmo com olhares solitários

Na cabeça faço um desenho
De todos os meus encantos
Que vicio é este que eu tenho
De rondar os teus cantos?

Este bicho que sinto
Rompe enfim os laços crus do Ser
Não o finjo nem o minto
Amor tão leal que aumenta no sofrer

E é com todo ele que te digo,
Jamais houve alma mais amante e terna
Do que aquela que é a tua,
meu amigo.

Itálicos e negritos: Fernando Pessoa

Adeus

2 comentários:

  1. A solidão pode ser apenas um momento
    o amor uma demência
    um anoitecer violento
    sem explicação nem ciência

    Por vezes a luta não adianta
    se em causa está a tua permanência
    mas o vento sussurra e canta
    que já decidiste partir para a tua independência

    Escrevo-te e leio-te
    tentando descobrir os teus motivos vários
    iludo-me e penso-te
    nos meus sonhos solitários

    Que me adianta dizer que já venho
    ou outros discursos tantos
    Se não há desdenho
    nem procura de encantos

    E isto que sinto
    que corrói a vontade e amargura de não Te ter
    é impossível de disfarçar ou de dizer que não sinto
    pois é essência do meu Ser

    E é com todo ele que te digo,
    que não há outros olhos de cor de piscina que sejam sinal de eterna
    vontade de enfrentar qualquer perigo,
    Mas continuamos perdidos pela rua.

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  2. "A solidão pode ser apenas um momento
    o amor uma demência
    um anoitecer violento
    sem explicação nem ciência"

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